
A
água por entre os dedos, as tuas mãos em concha, uma imagem de
apagar a sede onde os teus olhos desaguam. É aí que o dia se
evapora numa segunda adivinhação: a sede da terra que já foi
engolida pelas chamas.
A
outra é estar diante da seara e esquecer os mortos como se nada
tivesse acontecido. Este ar passivo e morno que nos transforma em
pássaros inquietos, numa total ausência de sons e de mãos caídas
sobre essa tarde de ânsias e esperas!
As
aves fugiram. O seu lugar estava disforme e indecifrável. Não havia
sombra. Tudo era cinzento e tudo se desfazia numa espessa nuvem de
negro fumo que tingia montes. Agora, a árvore das labaredas cresce
mil vezes mais e os rios, onde ela vai beber, começam lentamente a
secar.
Depois
invadiste aquele silêncio selvagem e caminhaste noutra direção, a
de reconstruir o teu tear sagrado. Certamente o último lugar do
fogo onde, pelos teus trapos, havias deixado a marca das tuas mãos.
Falaram-te
do inferno, de um arco-íris escondido entre as franjas do sol, mas
nunca te falaram dos demónios do negócio graúdo, dos que pagaram e
dos que receberam. Dos que, como no Brasil, querem voltar... Com
ditadura.
Álvaro
de Oliveira
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