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A água por entre os dedos, as tuas mãos em concha, uma imagem de apagar a sede onde os teus olhos desaguam. É aí que o dia se evapora numa segunda adivinhação: a sede da terra que já foi engolida pelas chamas.
A outra é estar diante da seara e esquecer os mortos como se nada tivesse acontecido. Este ar passivo e morno que nos transforma em pássaros inquietos, numa total ausência de sons e de mãos caídas sobre essa tarde de ânsias e esperas!
As aves fugiram. O seu lugar estava disforme e indecifrável. Não havia sombra. Tudo era cinzento e tudo se desfazia numa espessa nuvem de negro fumo que tingia montes. Agora, a árvore das labaredas cresce mil vezes mais e os rios, onde ela vai beber, começam lentamente a secar.
Depois invadiste aquele silêncio selvagem e caminhaste noutra direção, a de reconstruir o teu tear sagrado. Certamente o último lugar do fogo onde, pelos teus trapos, havias deixado a marca das tuas mãos.
Falaram-te do inferno, de um arco-íris escondido entre as franjas do sol, mas nunca te falaram dos demónios do negócio graúdo, dos que pagaram e dos que receberam. Dos que, como no Brasil, querem voltar... Com ditadura.

Álvaro de Oliveira



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Bibliografia Português, natural de Braga, Álvaro de Oliveira despontou ainda muito cedo para a escrita, começando a publicar os seus textos poéticos em vários jornais e revistas de que se destacam o Desforço de Fafe, Gazeta de Felgueiras, Diário de Notícias, Comércio de Guimarães, Correio do Minho e Diário do Minho. Foi profissional de Telecomunicações na Portugal Telecom. Reformou-se aos 50 anos de idade como Fiscal de Telecomunicações para se dedicar por inteiro à escrita. Em 1994 vê o seu nome inscrito na História de Os CTT nas Artes, nas Ciências e nas Letras. Em 2005 foi homenageado na sua terra por serviços prestados à Cultura. E em 2007 a autarquia de Nogueira, Braga, agraciou-o com Medalha de Mérito Literário. Escreveu, durante doze anos, uma crónica semanal no Jornal Correi do Minho. Colaborou e colabora, fazendo Crítica Literária, com o Jornal Diário do Minho. É autor dos seguintes títulos Poesia: Mãos de Sal, 1979. Mar da Boca, 1985. Mãos de Fogo ...